Espaços
Percebi em mim
Uma tremenda apatia
Que decai sobre meu corpo
E se derrama no meu dia.
Não há nada de novo
Não há nada, denovo.
A quietude solidifica
Os passos, a ginga, o corpo
O peso dos dias que foram
Me arrasta, me empurra e me para
Nem muito pra cá, nem muito pra lá
Me mexendo só o necessário
É uma tentativa tremenda de tentar poupar
A energia que resta da energia que eu gasto
Por estar horas e horas a fio
Tentando deixar, tentando ignorar,
Tentando e tentando e tentando tentar.
De novo e em silêncio, fingindo não pensar
Tentando de novo esse espaço ignorar.
É esse espaço um que sobra no canto
Nas páginas dos livros de poesia
sobra entre palavras que foram ditas
Que sobra, por onde olho, e por todo lado
Que sobra no horizonte durante o fim do dia
Espaço de silêncio, espaço de lentidão
Espaço que me consome
E o faz com sofreguidão
Espaço que não se enche e que se perpétua.
Quisera eu, algo que fizesse dele ou com ele
Algo que me fizesse, menos alheia e muda.
Para prenchê-lo mesmo que com coisas vis
Esses ecos, esses silêncios, esses sonhos pueris.
Fosse bebida, cigarro, palavras, presentes,
Fossem pessoas, ou livros, ou beijos ardentes
Mas nada preenche esse espaço
Espaço que mora no peito meu
Desde que da visão dos meus olhos
Teu semblante desapareceu.