Hoje
No dia de hoje eu não queria fazer nada
Queria era estar para sempre deitada na minha cama desarrumada
Queria ler Fernando Pessoa e seguir como diz no livro
Com a consciência plenamente desassossegada
Eu queria não pensar e por um tempo finito
Sem pensamento nenhum, pensar assim em como eu irei agir
Como irei não agir, como eu irei falar,
como irei falar daquilo que não quero pensar
como não pensar, uma vez que já estou falando
chega a ser contrário e de extremo cansaço
mas ainda assim minha consciência se faz plena todas as vezes
em que disso mais uma vez estou eu aqui anotando
talvez o silêncio dos pensamentos seja de fato aquilo que nós almejamos ter
o silencio é o foco na falta de barulho e é extremamente complexo
uma vez que é de barulho que vive o meu ser
eu penso as vezes como seria se eu não dançasse ?
se eu não tivesse como refugio a dança como seria?
lindamente insuportável viver em meio a tanto barulho
perdida como uma criança
eu posso hoje ouvir plenamente
cada instrumento de forma separada e agrupa-los de maneira consciente
para que escolha como dançar e que ritmo terá minha dança
quisera eu fazê-lo com pensamentos
assim creio que seria mais fácil
separa-los de forma harmoniosa e depois junta-los no mesmo espaço
trazendo um ritmo coeso de uma sinfonia cheia de significado
poderia eu apenas pura e simplesmente dançar com meus pensamentos
quase que seguindo leve um passo a passo
primeiro a direita depois a esquerda e então quem sabe para frente e para trás
pensando nisso e naquilo, e naquele outro jamais
as coisas seriam simples dentro de sua ordem cronológica pelo menos
a racionalidade me faz pensar que organizando os pensamentos
sentiria eu menos angustia de assistir o passar do tempo
me sentiria talvez mais útil e sendo útil talvez menos eu pensasse
menos pensasse no tempo que passa, nas coisas que tenho que fazer e que não faço
ai essa vida... essa vida, a vida que levo
levando assim sigo com ela por todo canto, e caminho sozinha num espaço de tempo
é como ser perseguida, mas perseguida de si mesma
pois estando sem mim, me sinto sozinha
e me sinto extremamente sufocada quando estou comigo mesma
são pensamentos de mais, espaços de menos
as vezes penso que minha consciência não é assim tão ampla
mas é repleta de espaços pequenos
esses espaços pequenos eu nomeio como esperança
esperança de que as coisas vão ser diferentes
esperança de que os pensamentos mesmo que pequenos possam trazer algum alivio no presente
são grandes e infinitas, mas que pequeninas cabem nesses espacinhos, vãos curtinhos
da minha consciência
as vezes pensando apenas nelas, mesmo sendo tão pequenas,
quando as isolo de todo o resto tomam uma proporção imensa,
são sempre pequenas esperanças, de que o dia vai ser bom,
e que as coisas vão acontecer e aí vendo eu a minha própria esperança
percebo que está tudo bem, mesmo se eu não as ver.