Pausas
Passa o tempo em intervalos.
Pequenos pedaços de uma linha dividida em coisas que eu gostaria de fazer, lugares que não queria ir e pessoas que queria conhecer.
Cinco dias e um final de semana. Intervalo.
Dias de verão escaldante à espera do frio de vinhos e promessas. E vice versa.
Um tempo para meditar.
Um intervalo para viajar.
Alguns dias para por a casa em ordem, cuidar das plantas, caminhar, sorrir mais.
O cumprimento de metas, de rotinas, de visitas e compromissos, para então, a paz.
Doze horas de trabalho. Pausa para a televisão.
Passam os anos em bocados.
Meses de espera, dias de quase alegria, felicidade consumada, períodos de lágrimas.
Férias de fim de ano. Outra segunda-feira.
Ela me disse do alto de seu enfrentamento de quase morte: "Mas você quer ser feliz todos os dias"?
A resposta magnânima é NÃO.
Mas lá dentro, na efervescência da minha hipocrisia, sorri.
Claro que sim!
Como comerciais de margarina.
Como cheiro de carro novo!
Como a pasmaceira de dias intermináveis com os pés na areia.
O tempo passa.
Sem intervalos por mim.
É astuto, terrível, debochado.
Nas entrelinhas leio sua mensagem: "decifra-me, caso contrário, descanse sem paz".