INVISÍVEIS
Há invisíveis entre nós... Sentimos seu cheiro e ouvimos seus passos moribundos de um lado para o outro, não podemos vê suas aparências, nem ouvir suas vozes. Só sentimos seu cheiro e os passos que nos incomodam, isso é em todos os lugares e há todos os instantes... Que impressionante!
Há milhares deles, uma multidão! De onde veem? De onde são? Não sabemos ou não queremos saber... São homens, mulheres, crianças e também idosos e deficientes. Em nada são diferentes da gente, a não ser pela invisibilidade adquirida.
Quem deu esse poder a eles? Quem os elegeu diferentes de nos? Eles não têm títulos de eleitores, CPF nem registro geral, e se um dia foram registrados em algum cartório, lá seus nomes não constam mais. Foram sumariamente apagados, riscados para sempre.
Eram Ritas, Manueis, Joséis, Marias, Joaquinas... Raimundos, Raqueis e Terezinhas... São meninos e meninas vistos como indigentes, que vivem no meio de uma sociedade decadente.
Até quando esse manto horrendo da invisibilidade ficará sobre eles? Quem os vez invisíveis? Ninguém além de nós mesmo! Nós nos fizemos surdos aos seus gemidos de socorro e cegos diante de suas muitas necessidades.
Somos cegos propositais e voluntariamente surdos, preferimos não ouvir ou ver nada, pois, há invisíveis entre nós.