Habitas em mim
Habitas em mim, como meu inverso.
No avesso à minha racionalidade,
onde a emoção que de ti aflora,
e que implora por meus gestos,
nada mais é que a sombra dos meus desejos,
percebidos nos suores de minha pele,
nos espasmos de meu ventre,
nos sussurros atrevidos presos em meus lábios.
Habitas em mim como a relva nos campos,
e recobre-me com teu manto acetinado,
com a vivacidade das manhãs,
e assim, confundem-se nossas carnes,
e no desapego da matéria,
faço do teu corpo um invólucro de mim...
Habitas-me, e faz-se senhor dos meus silêncios.
Horizonte onde repouso meus olhares,
como vértice dos sonhos que aponto para o céu.
E de ti brotaram e em mim fincaram,
as raízes dos teus sentimentos,
que se expressam livres como as forças da natureza...
Assim és meu bicho, meu astro,
meu mar e a rosa mais perfeita,
e em mim habitas,
sem de mim fazer-me prisioneira,
mantendo-me liberta como brisa e ventania,
protegendo-me como um anjo posto sobre minha alma,
permitindo-me flutuar entre todas as grandezas,
para então reconhecer-me e reconhecer-te,
como o todo e infinito que é o amor...