POEMA DA DESRAZÃO...

Chegou o tempo.

Em que a visão é futilmente ampliada

E a razão, pela razão repudiada...

Em que os séculos acelerados pelos ponteiros

Pelos segundos transcrevem contos o tempo inteiro.

Tempo sonoro que só escorre pelos dedos

Num tic-tac em franco desassossego.

Chegou o tempo em que as dores multiplicadas

Então procuram pelas razões profetizadas.

Pela palavra que tomou vida, sopro de letras

Em doce canção, verso de vida benfazeja!

Chegou o tempo.

Em que os sonhos já assentados são passageiros

Viajam os ares a esvaecer no mundo inteiro.

Em em que as peles já bem sulcadas e tão suadas

Também são linhas delineadas nos vãos da estrada.

Chegou o tempo de vãs promessas já delatadas

Desmascaradas...zombam das vidas abandonadas.

Chegou o tempo do narcisismo tão mundano...

A encenar pífio teatro aos desenganos.

Em que amor é verso branco de tão vazio!

Qual cujas águas correm detritos pelos rios.

Tempo tão mudo que já de braços enfraquecidos

Recolhe cacos pelo cenários dos prometidos.

Do inaudível coral das dores tão dissonantes

Desarmonia em partituras tão aviltantes.

Do virtual do tempo insano tão abstrato

Realidade do corroído por mascarados.

Tempos que jorram dos céus escuros tantos confetes

Que reverberam a voz perdida dos marionetes.

Bonecos rotos, esfarrapados no pleno Direito

De ter um corpo de mente plena e sem preconceitos!

Tempo sarcástico, algo profano, tão desumano!

Tempos das tendas a desarmar os vis enganos.

Tempos dos mares mediterrâneos dos dessentidos

Só afundarem corpos humanos dos esquecidos.

E pelo chão dum tempo furto de consciência

Toda a visão da resultante vil decadência.

Chegou o tempo.

Tempo absurdo em que a razão é só falência

Em desrazão, num paradoxo da existência.