TRADUÇÃO

E o que seria a saudade

Senão o grito silencioso duma alma que busca

Pelo todo sentido há pouco negado?

E o que diria ela de si mesma

A pulsar teimosa, justo no atemporal

Duma onda sem nexo

Que se perdeu do seu existencialismo

de tão pleno existir?

Saudade nunca se rende às traduções fortuitas.

Que saudade é essa que chora o inexistente

Mais pleno!

A então pulsar nas tão fugazes horas dum cerne volatizado?

Saudade sem endereço, sem remetente,

Sem fatos, nem atos,

Sem penitência, portanto.

Saudade coexistente...

Saudade em explosão,

Saudade sem redenção.

Segue apenas saudade!

Como um selo missivo ao infinito

Do que plenamente existiu sem ser notado.

O resto é pedaço dum poema sem sentido

(Sem olhos, nem ouvidos!)

Perdido...ao tempo que passa

Na ilusão do tudo que se vai

Sem nunca pedir licença.

Saudade, sempre ato ilegítimo!

A continuar sendo

Um ser...nunca existente.

Porque já não há como ainda se ser saudade

Num transbordante tempo de todo pleno sentido.