Última hora
Chega um tempo
Que o fim não justifica mais os meios
O belo se reflete feio
Os passeios já não tem mais graça
A praça não é mais a mesma
O caramujo abandona a lesma
E as folhas secas se espalham pelo chão
Chega um tempo em que o sol se esconde do verão
A primavera perde a cor, o sabor, e o brilho
O presente sai dos trilhos
O passado finalmente envelhece
E o futuro simplesmente não interessa mais
Chega um tempo em que a guerra vive em função da paz
A morte não assusta mais
A vida segue à deriva sem jamais voltar atrás
Chega um tempo, que não há mais por que sonhar
Não há mais por que sorrir
Não há mais por que pedir perdão
Não há mais por que estender a mão
E nem há mais pra quem dizer adeus
Chega um tempo em que um quarto não comporta mais um terço
Em que a cama volta a ser um berço
E o lar se transforma numa sela de prisão
Chega um tempo em que tudo é vão, banal e sem sentido
Em que o tempo não é mais abrigo
Não é mais o mestre
Não é mais o norte
Chega um tempo em que o tempo estanca
A morte se levanta, abre a porta, e enfim, nos leva embora