Marionete

Me usurpam da inteligência o brilho
e me devolvem a concessão da vida.
Me impõem do caminho o trilho
e da chaga a natureza da ferida.

Me usurpam do brilho a sabedoria
e me devolvem a concessão do ócio.
Me impõem da dor a agonia
e do arbítrio me impõem um sócio.

Me usurpam da sabedoria a liberdade
e me devolvem a concessão da sorte.
Me impõem da política a leviandade
e da sobrevivência me impõem a morte.

Me usurpam, enfim, eu de mim mesmo
e me devolvem a concessão dum sonho.
Me impõe do imponderável o ermo
e da eternidade me impõem o sono.

Marionete que sou do egoísmo,
do meu e de outros tantos.
Tolhido da coragem, o heroísmo,
inda me resta a concessão do pranto.

Se aos cordéis entreguei os meus encantos,
Pinóquio foi o meu nome de batismo.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 10/10/2015
Código do texto: T5409931
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