A Borboleta

As duas taças na mesa:

simetria exata do espelho.

Como tudo tem um igual,

um reflexo,

tenho o mundo como

reprodução do que penso:

os cães que ladram nas ruas,

as árvores de pássaros,

os pássaros no vento —

tudo sou como imagem.

Aquele rio ao longe

já fora mais vivo.

Hoje é plácido

porque meu pensamento

está mais sereno que outrora.

As montanhas

são a imensidão da mente,

são verdes, sinuosas

e rígidas;

e se encontram na iminência de um desabar.

Saio da janela

e vejo uma borboleta no ângulo

do teto.

Suas asas são largas,

pontilhadas,

policromáticas.

Têm formas,

círculos,

pontos,

linhas.

Ali está toda

a complexidade

e ignobilidade

do que há em minha alma.

Mas, não.

O mundo existe indiferente ao que penso.

Quisera ser o mundo...

Encontrar toda a gente

em todo canto.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 20/07/2015
Reeditado em 21/07/2015
Código do texto: T5317086
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