Voz
Ela notou, não muito recentemente, que sempre gostou de ouvi-lo falar.
Falar qualquer coisa, sobre qualquer assunto, à qualquer hora, em qualquer lugar, com qualquer motivo, mas falar.
Ela notou que os tons da sua voz pareciam música, a cada frase dita.
Que sua voz era para seus ouvidos, como colírios para os seus olhos.
Voz muitas vezes gasta, quase rouca, quase inaudível.
Voz que dizia, e repetia, tudo que ela queria ouvir.
Voz que conseguia explicar, o que ela não conseguia entender.
Voz que queria reconhecimento.
Voz que queria alento.
Ela tinha sonoridade.
Sonoridade descompassada, como o descompasso do coração que batia por ele.
Pra ele.
Era como uma orquestra sinfônica particular, para aquela garota que só fazia um pedido:
"Eu adoro ouvir sua voz, vem sussurrar absurdos em meu coração!"