Pela janela...
Encaro a vida pela janela.
Vejo um mundo diferente.
Distante.
Quero enxergar melhor... Saio correndo.
Tropeço na massa sem vida que inunda a rua.
Vejo o sol brilhar sozinho.
Vejo os rostos cadavéricos sufocados pelo ócio.
Vejo zumbis humanos sepultados pelo tédio
Num mundo que corre com o tempo
Contra si. Cheio de pressa,
Sugando a vitaliciedade de outrora.
Neste mundo que aí está,
Minhas pobres desilusões se desfalecem.
Vejo os humanos se arrastando lentamente
Sem pressa de viver a vida que é tão breve.
Vejo os outros contando passo a passo.
Vejo a vida escoando a cada número contado.
Eu morro ontem.
Eu nasço hoje.
Eu respiro a vida amanhã.
Eu me reinvento para não morrer todo dia.
Aonde há espaço, eu ando.
- Meu tempo é o quando.
Com as desventuras eu me protejo.
Com o afeto raro e sagrado
Eu me torno cada vez mais simples.
Foram-se os deuses,
Ficam-se os homens divinizados.
Encarnam a majestade, julgam-se sagrados
E dominam a sociedade.
Ditam-se as regras.
Decreta-se que tudo o que é bom será proibido.
E tudo o que corrói será obrigado.
Escravizam a humanidade.
Mutilam a liberdade.
Minha dor é aceitar
Que tudo vivido até aqui foi em vão.
Porque eu vivi.
Ao contrário dos meus companheiros, eu vivi.
Vivi, aprendi, me desiludi.
Fui contra a vida que meus pais têm.
Sua ideologia conservadora e submissa.
Mas invariavelmente, voltei ao mesmo lugar.
[...]