Pela janela...

Encaro a vida pela janela.

Vejo um mundo diferente.

Distante.

Quero enxergar melhor... Saio correndo.

Tropeço na massa sem vida que inunda a rua.

Vejo o sol brilhar sozinho.

Vejo os rostos cadavéricos sufocados pelo ócio.

Vejo zumbis humanos sepultados pelo tédio

Num mundo que corre com o tempo

Contra si. Cheio de pressa,

Sugando a vitaliciedade de outrora.

Neste mundo que aí está,

Minhas pobres desilusões se desfalecem.

Vejo os humanos se arrastando lentamente

Sem pressa de viver a vida que é tão breve.

Vejo os outros contando passo a passo.

Vejo a vida escoando a cada número contado.

Eu morro ontem.

Eu nasço hoje.

Eu respiro a vida amanhã.

Eu me reinvento para não morrer todo dia.

Aonde há espaço, eu ando.

- Meu tempo é o quando.

Com as desventuras eu me protejo.

Com o afeto raro e sagrado

Eu me torno cada vez mais simples.

Foram-se os deuses,

Ficam-se os homens divinizados.

Encarnam a majestade, julgam-se sagrados

E dominam a sociedade.

Ditam-se as regras.

Decreta-se que tudo o que é bom será proibido.

E tudo o que corrói será obrigado.

Escravizam a humanidade.

Mutilam a liberdade.

Minha dor é aceitar

Que tudo vivido até aqui foi em vão.

Porque eu vivi.

Ao contrário dos meus companheiros, eu vivi.

Vivi, aprendi, me desiludi.

Fui contra a vida que meus pais têm.

Sua ideologia conservadora e submissa.

Mas invariavelmente, voltei ao mesmo lugar.

[...]

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 17/04/2015
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