Foi na vida.
Foi em um livro de filosofia que deixei pela metade,
em gole de Whisky que comecei
mas ouvindo Chat Baker,
não terminei,
foi em um olhar roubado do passado
que na memória eu lembrei,
foi pelo ônibus que passou
e eu não peguei,
foi pelo atraso do dia a dia,
desse corre-corre desenfreado
que um dia me deparei,
não há sentido nessa vida,
não consumada
vivida pela metade,
como gozo interrompido,
amor não vivido,
como pergunta sem resposta,
circo sem palhaço
que graça tem?
Nessa vida tudo passa,
passa logo, e a gente não ver,
que o mais importante,
passa bem ao nosso lado,
e de bobeira não enxergamos
o poço que sacia na nossa sede de paz,
nunca esteve longe,
ao alcance de nossas mãos,
bastava jogar a corda com o balde,
logo viria repleta,
límpida água de salvação,
dessa cegueira inebriante,
que nos embebeda e nos cega de vez,
não nos faz ver que o amor,
que a vida, pulsa,
em plena agitação,
somos carrascos e vítimas,
das nossas próprias ilusões,
sem seleção, toca em todos,
pobres e barões,
toca no clero, toca no leigo,
toca no chefe, no patrão,
no operário que trabalha
com as mãos,
movido por necessidades e pelo coração,
toca no artista, no doutor,
toca até no ladrão,
no viajante, no violeiro que só leva em sua mala
a saudade em forma de canção.