S.O.S

Quando nasci, fui inusitada, se é que nasci.

Sim, fui, no passado.

Passado sem críticos, sem políticos.

Passado limpo, não acabado.

No silêncio fui crescendo.

Fui criança, jovem, adulta.

Amei, odiei, jurei, reneguei.

Todos os verbos conjuguei e inventei.

Já segui regras e costumes.

Mas, mudei, tornei-me solta.

Fui liberdade de muitos homens.

Agora, já não sei, que sou, que serei.

Precisei gritar, reagir.

Não, não quero isso pra mim.

Há verdade da literatura? Não.

Há insanidade na literatura? Não.

Não, não há, sonho, coragem.

Não, não há literatura.

Não como nasci, não como arte.

Tornei-me presa, pobre, nua.

Uso de minha própria arte para dizer.

Grito alto por esclarecer.

Nunca fui canônica.

Quis ser de todos, sem ser platônica.

E por fim, fui limitada.

Por exuberados favores.

De compadres? Não.

De escritores.

Rafaela Sousa
Enviado por Rafaela Sousa em 21/02/2014
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