Em paz

Em paz

Escolho o silêncio, não há nada a ser dito

Palavras estilhaçam o que já foi tão bonito

Ao proferi-las destruirei tudo que sonhamos

Nossos desejos, juras e todos os planos.

Sairei à francesa, bem de mansinho

Fico com a lembrança do nosso carinho

Não deixarei sequer um bilhete de despedida

Como se nunca tivesse feito parte da sua vida.

Somos de universos completamente distintos

Jamais nos encontramos de verdade nesses labirintos

Não temos sequer um único ponto de interseção

A realidade fez evaporar as brumas da paixão.

Foi lindo, beirou a perfeição mas não virou real

Talvez pudesse ser diferente num mundo ideal

Onde o homem pudesse viver como o poeta

Envenenado por Eros e sua certeira seta.

Quem sabe onde não existissem máscaras funcionais

Onde declamações fossem bem mais que atos teatrais

Onde eu pudesse queimar meus barcos e ancorar no cais

Onde não necessitasse visceralmente partir mais, nunca mais.

Num tempo onde só pronunciasse o que essencialmente sentisse

Cada simples ação fosse viva como uma escultura de Matisse

Sem culpa,pecado,compromisso,passado ou julgamento

Sem mágoas,mentiras,armações ou qualquer vão lamento.

Parto sem bater a porta ou olhar para trás

Tudo que passou não volta atrás

De certa forma, algo aqui agora jaz

Que descanse eternamente em paz.

Leonardo Andrade