UMBIGO GRAVITACIONAL
A culpa é minha
Assoprei palavras sinceras à brasa
Aticei o fogo com louvores
Inflei o ego com um fole de choro, preocupação e lamento
Fui chamado de arrogante
Que deveria ser humilde por um instante
Mas olha a boca que dizes!
A criatura do umbigo entusiasmado!
Teu convencimento é manhoso, esconde-se
Camufla-se no doce olhar
Na dúvida verdadeiramente dúbia
Na máscara ambígua de timidez
Nas infindáveis e por ti desejáveis lamúrias
Abraçadas ao silêncio inconveniente
Ah! Mas que revelação umbilical
Ponto gravitacional que supõe girar todas as minhas ações
Todos os meus gostos, os meus dizeres e os meus fazeres
Como se tudo fosse matéria orbitante desse contemplado umbigo angelical
Ora! Terei que medir meus passos a cada fragmento de segundo,
Para não encontrar e dar as mãos aos teus gostos?!
Não, não tenho barbantes nas mãos
Tampouco cordas no pescoço
Vivencio e faço o que a vontade me manda
Não o que tua arrogância me ordena
Esqueceu-te das singelas ações
Inquieta-te com as sombras imaginárias
Vestiu de interesse a pura preocupação
De impaciência a intensidade de sentir
De fraqueza a sinceridade dos atos
Vê apenas as sombras que tua luz projeta
E as tortas fantasias que tua mente costura
O que infla o teu ego oculto são essas tuas pernas bambas
Tua indefinição emudecida nesse mar de incertezas
Não sabes o que quer
Não sabes quem quer
Isso porque já não sabes mais querer
Já esqueceu como fazer
Essas pernas atrofiadas pela inércia
Que meticulosamente ensaiam sua marcha
Com medo de tropeçar
Mas que nunca saem do lugar
E somente sonham em voar
Nessa tua zona umbigocêntrica
Ajuda não queres
Porque gosta de lamentar
Queres a preocupação mirada aos teus melindres
Para que possas desdenhar
Nesse teu universo
A gravidade não me afeta como imaginas
Entenda que tua fragrância me encanta
Sim, me encanta e me causa desejo de sentir esse teu cheiro
Mas não, não te respiro num inteiro
O atmosfera que enche meus pulmões não és tu
Meu ar é o tempo, a vida, a bucólica simplicidade dos dias cinzas
Das gotas de chuva
Do silêncio e da melodia inaudível da gélida cantarina noturna
Pois só sei respirar o mundo…
Tu?
És apenas um doce suspiro perdido no meio do meu ar
Uma brisa perfumada que ainda gosto de apanhar
És um frasco com um leve aroma que teima em se fechar
E que ao gosto dos ventos egocêntricos
Um dia pode se dissipar
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