Se meu corpo morresse amanhã
Se meu corpo morresse amanhã
Bem cedo, sem delongas ou demora,
Visitaria tão pequenina capela
Onde soou o sino naquela hora.
Abraçaria quem diz ser meu inimigo,
Minha casa, do sem teto – abrigo;
Sem importar-se com burburinhos de outrora.
Se meu corpo morresse amanhã
Tentaria porventura, então, experienciar
Naqueles humildes e últimos momentos
O que não vivi, do que escrevi em poesia.
Banhar-me-ia despido no oceano da vida,
Dormiria a sombra da grande árvore florida
Comeria os frutos doados naquele dia.
Se meu corpo morresse amanhã
O silêncio seria meu pranto;
Sofreria por recordar
A vivência de um nada e tanto.
Braços erguidos ao Infinito;
Um soluço, um gemido, um grito...
Anjo me acolhe em seu manto.
Se meu corpo morresse amanhã
Talvez devorasse meus sonhos
Ou viveria como qualquer dia,
Ou andaria sobre o mar...
Porventura, então parasse,
Olhasse ao alto e desejasse
Não ter aprendido voar.
Se meu corpo morresse amanhã
Ficariam doces lembranças
De uma existência vivida.
Diria aos olhos seus:
“As almas que se amam
Não conhecem distância,
Nem sabem de adeus”.
(19/10/1996)