ATEMPORALIDADE POÉTICA

Me perguntam sobre os sentimentos versificados

“São sentimentos do passado?”

“São sentimentos do presente?”

Sim para as duas indagações

E mais…

São sentimentos do futuro e de um tempo ausente

Mas não somente sobre o tempo me inquirem

Querem saber a pessoa do tempo

“Para quem escreve?”

Escrevo para alguém do presente

Que anda de mãos dadas com alguém do passado

E abana a outro alguém do futuro

Escrevo apenas para meu inconsciente

Minha escrita é perdida no tempo

Alcança todos e não pertence a nenhum

Versos anacrônicos que perambulam pelas dimensões

Carregam o que senti, sinto e sentirei

Vagam randomicamente pelo espaço

Cujo destino nem eu mesmo sei

Ébrios vagabundos eternamente errantes

Que não apressam seus passos desconsertantes

Meus rabiscos são impessoais

Os sujeitos são anônimos

Escondidos por detrás da cortina das letras

Expurgam um simples sentir

Não um ser que se brinca de fingir

Mas, sim, também são pessoais

Porque dedico a alguém de agora

E junto dedico a alguém de outrora

Não tentem despir minhas palavras

Nem campear um simples significado

Só aproveitem este texto desordenado

Não talhem um nome e um tempo na poesia

Pois mesmo os versos agora dedicados

Carregam muitos nomes futuros

Carregam muitos nomes passados