MARATONA ESTÁTICA
Correr
Durante minha vida
Sempre corri
E enquanto minhas pernas calejadas aguentarem
Irei correr
Corri atrás daquilo que buscava
Por vezes mirando algo inexistente
Que ao me aproximar
Mudava de figura
Seria miopia dos olhos
Ou miopia do espírito?
Espírito que teima em enxergar um futuro incerto e embaçado
Futuro que ao virar presente não é igual ao idealizado
Não sei,
Mas corria
E se não era o que queria
Corria para outro lugar
Mas corria
Nunca juntei os braços para orações
Se podia usar as pernas para alcançar o que queria
Corri
Não importava a estrada
Seus morros
O calor
O sol
A chuva
O suor
A dor
O cansaço
O coração exausto
Nada me impediu de correr
Nenhum tempo…
Ah, o tempo!
Mas ninguém tem pena deste deplorável infeliz?
Dizem:
“Deixe que a poeira baixe!”
“Deixe que as coisas sosseguem!”
“Deixe que o tempo resolva!”
Mas será que o tempo já não tem muito com o que se preocupar?
Eu que nunca me importei em correr com poeira nos olhos
Hoje,
Vou ter que esperar ela baixar
Esse estranho trecho da estrada que me encontro
Só pode ser cruzado com as pernas estáticas
E vou esperar
Mesmo que tenha que as pernas amarrar
Pois quanto mais corro
Mais o que quero parece se afastar
Esse trecho
É fruto de caminhos tortos que tomei…
Mas só sei
Que nessa estrada quero estar
Essa estranha e linda estrada
Sem sinalização
Nem indicação de direção
Pois só me perdendo
Encontrarei o meu caminho