Sem fim
Sou o calor de tudo isso,
Sou o homem na estrada
Estou a passos daqui
Estou em vasta jornada
Cá entre os homens perdidos
Nada temo aquilo que vem
Se por ordem de descabidos
Nada sofro daquilo que têm
Caminho em trôpego passo
Embaralhado no teor de mistério
Envolto em tempo de encontrar
Algo que faça mais sério
Tento por vezes a morte driblar
Se ainda caminho é porque quero
Sendo assim não posso falhar
Preciso viver e encontrar o qu’espero
Não lembro bem o começo
Não me atrevo a desistir
Se por um acaso enalteço
É por que um dia hei de sentir
A minh’esperança não morre
Embora falhe não há de partir
Meu coração pulsa mais forte
Ainda não sei ao certo onde ir
Quando outro dia amanhece
Tento por vezes me lembrar
Que perder outro dia não posso
Pensar em fugir ou desesperar
Sou aquilo que entendo
Embora muito incompreendido
Sou aquilo que tento
Embora falhe e já tenha caído
Sou homem como muitos outros
Temo por meus dias infundados
Sou tão cheio de amor e dor
Por tempos longínquos furtados
Outra vez me posto a escrever
Tentando meu interior refletir
Fácil não é desvelar, subverter
Com palavras vou tentando exprimir
Sou a dor da busca estendida
Sou o ardor dessa minh’alma
Se por tempos não vejo saída
Se ainda existe em mim calma
Rogo por um dia encontrar
Algo que possa me satisfazer
Sentar-me brando à leitura
Doutro livro que tenha de ler
A bem da verdade, isso não nego
São páginas malditas que m’inquietam
Em cada palavra encontro um dilema
São essas verdades que me desassossegam
Hoje, mais um dia qualquer
Outra trilha começa sem fim
Proponho uma nova empreitada
Outra busca à procura de mim
Sou então aquele conformado
O homem cansado e persistente
Sou então aquele angustiado
O homem de procura inerente
Sou o que sou e nada além disso
Sou aquele que parte, porém volta
Sou o homem abrutalhado, indeciso
Sou o projeto de sábio sem resposta
Sei que nada sei e continuo assim
Não busco além do que posso e quero
Embora sempre saiba dentro de mim
Que aquilo que quero e espero
Nunca vai ter um fim