VIGAS DAS SOMBRAS
Eu queria ser um poeta feliz
Mas meus versos jamais me obedeceram
Saíram de mim, desceram ladeiras
Rolando nas encostas da tristeza
Que parece não ter fim
Com paciência, contudo,
Eu juntei alguns deles,
Sequei-os, costurei-os, e os remendei
Resultou num monstro sem alma
Cara mais feia, garanto, ainda não vi
Depois, li em Drummond
Que o verso há de ser sempre infeliz
Sempre torto e coxo,
Um talho na mão,
Uma dor, uma cicatriz!
Então os liberei para serem o quiserem ser
Uma canhestra tentativa da palavra
De explicar vazios
Vigas inúteis que amparam as sombras!