VIGAS DAS SOMBRAS

Eu queria ser um poeta feliz

Mas meus versos jamais me obedeceram

Saíram de mim, desceram ladeiras

Rolando nas encostas da tristeza

Que parece não ter fim

Com paciência, contudo,

Eu juntei alguns deles,

Sequei-os, costurei-os, e os remendei

Resultou num monstro sem alma

Cara mais feia, garanto, ainda não vi

Depois, li em Drummond

Que o verso há de ser sempre infeliz

Sempre torto e coxo,

Um talho na mão,

Uma dor, uma cicatriz!

Então os liberei para serem o quiserem ser

Uma canhestra tentativa da palavra

De explicar vazios

Vigas inúteis que amparam as sombras!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 17/09/2011
Reeditado em 20/10/2023
Código do texto: T3224444
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