Conflito

Se eu pudesse, diria a mim mesmo: observai, ó doidivanas, que já passais dos sessenta.

E continuaria, invectivando o menino travesso, que, apesar dos muitos netos

Ainda namora a horas tardias, gosta de dançar de rosto colado e ama com o vigor dos quarenta:

Parai com essas sandices; dormitai em vossa poltrona na sala; pensai em algo sólido e concreto.

Esse meu outro Eu, esse inconformado moço ainda nos trinta andando, não reconhece a gris nos cabelos

Tampouco sente o corpo cansado; tem um comparsa dentro do quarto – o crápula lhe revela músculos rijos através dos olhos viçosos...

Ainda insiste em mostrar, prá cúmulo das inconveniências, uma namorada de corpo delgado estirada na cama, (há que se quebrar esse espelho!)

Que mantém, da adolescente, o sorriso... mas, que já passou dos cinqüenta – embora esse meio século de vida tampouco lhe seja oneroso.

Que raios, poderei eu, dizer a esse gajo, (Eu mesmo...) se ouvir o parvo não quer? Se continua a esbaldar energia em sofismas os mais abstrusos?

Agora, esse camarada sem nexo, deu de querer descobrir o lado obscuro das coisas: qual a incógnita razão, de neste nosso Universo, a vida humana existir?

Não deveria esse tonto, esse Sancho alienado, contentar-se com a igreja da esquina (Uma dessas que já têm a Verdade pronta)ao invés desse questionar tão confuso?

Fico a pensar cá comigo: que fim terão esses dois – o meu outro Eu e sua musa constante. Os dois se imbricam em querelas, a tentar deslindar o novelo e do labirinto sair.

Ainda a noite passada o meu outro Eu um descortino engendrou: visualizou que a divindade e a pedra são matéria do mesmo teor.

E acrescentou, o insano: que quando a percepção em nós se amplia, mostra-nos o ciclo completo; que do Manvantara ao Pralaya, da ameba ao Ser mais perfeito

Intrinsecamente, não existe a menor diferença, pertencem ao mesmo processo: um é encadeado no outro – não há argumento lógico a opor.

Isto posto, disse o meu outro Eu para mim, de forma definitiva: a função do Homem, dentro da evolução, é ser também Universo – não há outro jeito...

Se bem que, em nossa forma arrevesada de exprimir, na falta de coisa melhor, o termo Multiverso define bem melhor o conceito.

Terra dos sonhos, manhã de Quinta-Feira, prenunciando uma Lua quase plena nos céus da noite, Julho de 2011.

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 11/08/2011
Código do texto: T3153404
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