ROTINA

Nesta tarde quente,

de um sábado monótono e preguiçoso

as horas vagueiam indolentes

e a noite parece demorando a chegar.

Sendo já uma rotina,

contingenciado pela idade,

conto até os minutos,

de quase todas as horas

de quase todos os dias,

trancado em meu refúgio,

conversando com meus livros

ou então comigo mesmo,

um diálogo silencioso, íntimo.

Medito sobre o Tempo, sobre a Vida

sobre sua transitoriedade,

sobre os sonhos efêmeros,

sobre como tudo é ilusório.

Um barulho vem de fora,

o trânsito - os automóveis, os ônibus transportando gente,

em um vai e vem sem fim.

Pessoas que passam falando alto,

o sorveteiro gritando no alto-falante:

- coco, goiaba, cajá, graviola – olha o picolé!

numa saraivada atordoante.

Mas a minha indiferença é tanta, que nem o barulho a perturba.

A tarde, porém, já não demora a adormecer,

e, lentamente, a noite a envolve,

com os seus segredos e os seus mistérios.

Chego à janela e olho o céu,

a Lua em quarto crescente

e nuvens passeiam sob as estrelas.

Ah, se pudesse cavalgá-las,

voar, ver o mundo lá de cima – bobagem!

Recolho-me outra vez,

nada me atrai, nada me diverte.

Reflito sobre coisas desconexas

até que chega a meia-noite,

marcando o fim de mais um dia no calendário do Tempo.

Então, surge a madrugada abraçando um novo dia.

Alguns pássaros chilreiam na árvore em frente,

e, nos jardins, as flores abrem suas pétalas

para receberem o calor do Astro-Rei.

As pessoas despertam para a luta de sempre,

para a mesma rotina diária.

E eu, o que vou fazer?

Ah, sim, ainda ouso sonhar,

Fantasias de curto prazo...

Natal, dez/2010

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 26/05/2011
Reeditado em 28/05/2011
Código do texto: T2994643