ROTINA
Nesta tarde quente,
de um sábado monótono e preguiçoso
as horas vagueiam indolentes
e a noite parece demorando a chegar.
Sendo já uma rotina,
contingenciado pela idade,
conto até os minutos,
de quase todas as horas
de quase todos os dias,
trancado em meu refúgio,
conversando com meus livros
ou então comigo mesmo,
um diálogo silencioso, íntimo.
Medito sobre o Tempo, sobre a Vida
sobre sua transitoriedade,
sobre os sonhos efêmeros,
sobre como tudo é ilusório.
Um barulho vem de fora,
o trânsito - os automóveis, os ônibus transportando gente,
em um vai e vem sem fim.
Pessoas que passam falando alto,
o sorveteiro gritando no alto-falante:
- coco, goiaba, cajá, graviola – olha o picolé!
numa saraivada atordoante.
Mas a minha indiferença é tanta, que nem o barulho a perturba.
A tarde, porém, já não demora a adormecer,
e, lentamente, a noite a envolve,
com os seus segredos e os seus mistérios.
Chego à janela e olho o céu,
a Lua em quarto crescente
e nuvens passeiam sob as estrelas.
Ah, se pudesse cavalgá-las,
voar, ver o mundo lá de cima – bobagem!
Recolho-me outra vez,
nada me atrai, nada me diverte.
Reflito sobre coisas desconexas
até que chega a meia-noite,
marcando o fim de mais um dia no calendário do Tempo.
Então, surge a madrugada abraçando um novo dia.
Alguns pássaros chilreiam na árvore em frente,
e, nos jardins, as flores abrem suas pétalas
para receberem o calor do Astro-Rei.
As pessoas despertam para a luta de sempre,
para a mesma rotina diária.
E eu, o que vou fazer?
Ah, sim, ainda ouso sonhar,
Fantasias de curto prazo...
Natal, dez/2010