Estrada de cada um - Bananeiras Pb.

ANUNCIAÇÃO
 
O sol despeja seus raios branqueando a terra,
O manto negro da noite afugenta-se em desatino,
O ambiente das trevas agrava a maledicência,
É dia, papagaio empinado, brincadeira de menino,
Suscita a vida, corre-corre e muita algazarra,
Quem não dorme a noite, vagueia sem destino.
 
Ver-se o tempo sobre as formas ir consumindo,
Quem ontem foi jovem, hoje se diz o idoso,
Carrega na bagagem do tempo o seu alfarrábio,
Difundindo-o ao novo de um modo assombroso,
Lembranças não puras; idéias quase frustrante,
Da claridade do dia ao negro manto escabroso.
 
Não lhe apraz ser o anunciador tenebroso,
São os ditames desse espaço, o velho anuncia,
A pureza do imaturo se vai, ao cair do manto,
Suprimindo a beleza que nos ofertou o dia,
Some a criançada, no céu já não há o colorido,
No sussurro das águas, monstro do mar bramia.
 
Sopra uma tempestuosa e quente ventania,
Que penetra nas frestas do brumoso casarão,
Agitando a fagulha do fumacento candeeiro,
Vergava o pescoço, os olhos cobriam o chão,
O velho espiava a luz, orava no sacro rosário,
Ele o senhor do dia, do manto e da anunciação.
 
                           Rio, 13/02/2011
                         Feitosa dos Santos