Presença de Espírito
Que é isto que pensa meu pensamento
E sente o meu sentir primeiro que o sentimento?
Quem é que me rouba a ausência
E presencia a minha solidão?
Que coisa é esta que me dá desde o limite do corpo
Até a fronteira do chão?
De tempos em tempos esta melancolia movediça
Que me enche as esponjas dos olhos da enchente do espírito!
Tenho razões de sentimentos e sonhos de realidades,
Ao passo em que não tenho nada e estou cheio de posses.
Esta proximidade longínqua entre o corpo e a alma,
Este espaço descontínuo entre os homens,
Os passos do destino que descompassam a vida,
Tudo me desorienta nesse caos orientado.
Quem dissipa esta névoa da alma e turva o homem,
Cegando-me os olhos nesta visão clarividente?
Meu coração, ampulheta da vida, carretel do tempo,
Destrava essa âncora que ancorou o mar
E dispara de novo esse tic tac do homem,
Sem parar o horizonte que volta à terra firme!