Águas Amargas
A angústia crescia no meu ventre
Como o bailar de borboletas apaixonadas
Subiam e desciam pela garganta
Machucando minha passagem de ar
Meu íntimo era nascente de águas amargas
Turbulência a se desenfrear
Mudei meu comportamento
Fiz-me mais forte pra suportar
Mas elas cresciam dentro de mim
Numa ânsia de me vencerem
De traspor a barreira que construí pra me salvar
Mas essas águas eram um mar revolto
Batendo contra meu rochedo
... As rochas do meu peito...
Tentei não vacilar...
Mas a onda de desespero vencia a cada investida
Tentando fazer com que meus olhos se rendessem
Meu orgulho ferido dificultava meu respirar
E as águas insistentes batiam na muralha
Rezei para que nenhum tijolo se rompesse
Prece em vão!
A barreira cedeu
Meus olhos eram fissuras forçadas
E toda água contida jorrava prazerosa
Deixei-me vencer
Sou rocha lascada, quebrada, e emoldurada pelo quebrar violento dessas ondas
E então me dei conta de que havia esquecido
Pra onde eu ia ou de onde eu vim
E percebi que essa morada em que habito já estava vazia
Não havia mais águas amargas, nem sonhos...
Estava vazia até mesmo de mim!