Fome e Miséria
Você me assiste na Televisão,
Fica assustado.
Eu ainda dou um largo sorriso para a câmera,
É impossível não ficar assombrado.
Eu não quis nascer aqui, nem assim,
Mas nasci, esta é a minha família.
Tenho treze irmãos, todos iguais a mim,
Mas não com o mesmo caráter.
O forte calor já é costumeiro,
A chuva transformou-se em nada.
Não uso roupas por falta de tê-las,
O alimento, escasso, seca minha pele.
Embora meus ossos fiquem à mostra,
Querendo saltar de minha fina carne,
Minha barriga cresce assombrosamente.
Não sei o que pode ser isso.
Antes éramos 16, mas eles morreram,
Antes de chegar aos quinze anos.
O mais velho teve uma convulsão (eu acho),
Nos outros dois começou a sair "minhoca" pelos ouvidos.
Esperança já não tenho,
Agora acho que cheguei aos seis anos.
Minha mãe está doente,perto da morte,
E não como dela tratar (ninguém sabe o que é).
Sento-me no chão,
Escrevo uma frase na areia.
A câmera se abaixa e filma:
"Aqui, sim, somos todos iguais".
A.F 2010