PARA FALAR DE SOLIDÃO

 

 

A solidão existe em mar profundo

E dentro da noite de clara lua...

Está em minha pele – suave e nua

Conquanto o amor jaz moribundo!

 

A solidão permeia o infecundo

Regaço da mulher, onde tatua,

A marca indelével, que insinua,

A perda dos sentidos num segundo!

 

A solidão está no grito atroz

Que de meu peito escapa - quase mudo

Nas rimas do poema que eu desnudo

No vôo silencioso do albatroz!

 

A solidão está naquela carta

Que um dia escrevi (rasguei depois)

Presente no silêncio de nós dois

Sangrando - nesta dor que não se aparta.

 

A solidão persiste na delonga

Que possa preencher este vazio

Na impossibilidade do arrepio

Na noite sem amor que se prolonga.

 

A solidão está na melodia

Tristonha, nas cordas d’um violino,

Tocada pelas mãos do peregrino

Nos versos que compôs em poesia.

 

A solidão é o verso esquecido

Do poema de amor, inacabado,

Na alma do poeta apaixonado

Do amor que se pudera ter vivido.

 

Quão solitário é este pavio

Na chama prestes a se apagar

Na face da morte, a espreitar,

A vida sem cores e atavios.

 

A solidão é o pranto que eclode

Do sentimento forte, visceral.

Tão destrutivo quanto o vendaval

Que chega furioso e me sacode.

 

A solidão existe em cada voz,

Em cada corpo vivo que desponta,

No coro de falácias, que amedronta,

Posto que está em mim, em ti, em nós!

 



Publicando e agradecendo a bela participação de

Doce Val

 

Esta solidão que flora noite e dia

que deixa assim sem alegria uma alma a chorar

em agonia que quase não cabe no peito

e se sente no direito de nossa vida comandar...

 

(Doce Val)