CARTA
Caro amigo,
Esta carta quase não pode fechar,
pelas bordas coladas do envelope
Calam-se, cheias dos meus sonhos
num jogo de palavras angustiadas
escritas num cantinho confidencial
com endereço certo e muita urgência.
Que esta carta chegue verdadeiramente!
Que esta carta chegue valendo.
Se tu me tens, ainda, em teu coração
que ela mostre de bem longe
Amigo querido,
a minha angustia está na altura do presente,
o futuro se perde bem diante dos meus olhos
a voracidade do momento se dilui no passado.
Lacro o envelope e molho o selo com a língua
como a procurar teu corpo ausente...
Envio-te uma fantasia ainda, em teu coração.
Que ela chegue refletida na minha voz
bradando tuas distâncias.
Como se fossem rumores vagos
das ondas do teu mar sereno sossegado.
Teu nome puro, esfuziantemente, em azul céu
que o tempo não o empalideça
como a um céu desbotado.
Meus manuscritos mudos
Em desespero maior
como os impulsos das paixões raras
dos desejos antecipados
Dos quereres finitos ou não...
Vitoria Moura 4/5/2010