Deixar voar

No ímpeto de possuir

Impedimos os voos

Para ter o poder

E fazer nossa vontade

E eis que o pássaro

Sedento de luz

Ganha o céu

Na fome de voar

E ficamos nós

Dramaticamente

Sem o seu cantar

E beleza da cor

Não acreditando

Que fosse voar

Num último gesto

Tentamos resgatar

E vemos nossas mãos

Presas nas amarras

Tão bem tecidas

Por nós mesmos

Passamos a padecer

Na memória da melodia

E ficamos prisioneiros

De nossos vazios

A olhar o céu

Em busca da liberdade

Que em nosso egoísmo

Não soubemos cultivar

Sem perceber

Que o céu imenso

Poderia ser descoberto

Num voo duplo...