E Agora?
A mãe que acorrenta o filho,
Mediante o desespero,
Do putrefato enredo
Do crack,
É o retrato do desastre,
A prova cabal que a vida saiu do trilho.
Que estranho sentimento é esse que arrefece,
Espanca...
Sangria que não estanca.
O que mais ela faria se pudesse?
Daria voltas em volta do planeta,
Para livrar-se da certeza,
Da iminência,
Da indecência
De perder a cria,
Para a assassina porcaria.
Ajuda, procurou.
Não encontrou...
O filho cada vez mais escravizado,
Cada vez mais animalizado.
O infortúnio se aconchegando,
Agressivamente se transformando
Em leito,
Para o seu descompassado peito.
Ela sabe que a esmagadora maioria fracassa.
Essa droga, especificamente, arregaça.
Algo precisa ser feito.
Procura, desesperadamente, um jeito...
Todo mundo fala que há saída para tudo.
Busca, pensa. Pensa muito.
Ele está cada vez pior,
Destruindo tudo ao redor.
Mas, ela olha e ainda o vê ao fundo.
Busca-o no mais profundo.
A chama materna que nela ainda arde,
Assegura-lhe que, ainda não é tarde.
Já não há mais diálogo possível.
Qualquer postura pode ser destrutível.
Acuada,
Desesperada.
Resolve apelar
E o filho, acorrentar.
Passa dias sem sair do lado,
Sem arredar o passo.
Assiste a tudo,
Que há de mais degradante no mundo.
Ao contrário da maioria das famílias,
Que rejeita e abandona o filho drogado,
Ela abriu na marra a sua trilha.
Talvez, apostando num restinho de força interior,
Que ainda possa haver no menino,
Desafia as leis e o destino...
Privando-o de qualquer possibilidade,
Da fatalidade,
De um contato com o exterior,
Mantendo-o literalmente acorrentado,
Mas, permanecendo irredutivelmente, ao seu lado.
Cuidando-o,
Velando-o!
Até a chegada da polícia!