Vôo livre
O que leio,
As coisas que vejo,
Somado ao que sinto
Obriga-me a pensar:
O que queremos da Vida se nela não mergulhamos a fundo?
Por que usarmos tantas máscaras, por que forçar tantas situações,
Se estamos irremediavelmente vazios? Se nos distanciamos de tudo
Como velhos lobos desdentados, absolutamente desprovidos de emoções?
A surrada postura do laissez-faire nos faz muito bem.
Tocamos prá frente esta nossa vidinha insossa, rezando para que nada e nem ninguém nos venha incomodar.
O Sol nasce e se põe todos os dias, mas nossa anomia é tanta, que se acaso isso, repentinamente, viesse a mudar,
Presos como estamos em nossos casulos de condicionamentos, provavelmente sequer iríamos notar.
Há séculos um Avatar chamou-nos de sepulcros caiados; coberto de razão ele estava, não há como negar.
O que ele não percebeu, é que por mais que tentemos, de um incompreensível medo ainda continuamos reféns.
Não há respostas fáceis para estas indagações.
A não ser que queiramos ouvir as tranquilizadoras propostas que nada acrescentam,
Que se atem ao óbvio, que em realidade nada respondem, e céleres vão passando ao largo de dolorosas questões.
Convido-vos a uma viagem diferente: observem atentamente uma criança brincando,
Tentem, também, libertar-se da cadeia do Agora, voem livres, para bem longe deste negro castelo de limitadoras três dimensões,
E saboreiem, degustem avidamente da vida como faz a criança que um dia, não tão distante assim, vocês já foram.
E voltem dessa libertadora viagem com alma nova,
Sem medo de vôos mais altos, sem temer colocar-se a prova.
Sem mais querer viver de migalhas, atirando prá longe a incômoda e mofada tralha da hipocrisia.
Não é nada fácil, bem sei.
No entanto, posso afirmar, sem nenhum medo de errar,
Que é muito melhor poder falar livremente do que sentimos, exorcizar nossos medos,
Evitar os atalhos do fingimento, compartilhar com quem amamos os nossos mais recônditos segredos,
Do que continuar enterrados vivos no lúgubre cemitério da afazia.
Conheci um garotinho de nome João. Ele vive com o avô num quarto alugado, junto ao qual eu vim morar para respirar o imprescindível ar puro da liberdade. Quando me for daqui, levarei na bagagem, além de todas as demais vivências, a doçura da voz do João e a convivência harmoniosa que mantém com seu avô. Hoje, pela manhã, vi o João entretido com seus brinquedos, e, sem que ele soubesse, tornei-me parceiro de suas lúdicas viagens.
Cidade dos Sonhos, tarde do primeiro Sábado de Março de 2010
João Bosco