Cortina Desbotada

A sensação de carência faz a gente acumular...

E se acumula de tudo.

Todo tipo de bobagem que há no mundo.

É como se o próprio fosse acabar.

Ela habita a primeira camada do ser,

A mais exposta, a mais mascarada,

Que, pelo estabelecido, já foi contaminada.

Para dissolvê-la é preciso mergulhar no viver!

Junta-se roupa, objetos, mantimentos,

Embolorados sentimentos,

Nocivos comportamentos,

Neuróticos pensamentos...

Ultrapassados discursos,

Complicados percursos,

Perigosas rotinas,

Desbotadas cortinas...

É um tipo ineficaz de compensação.

É se iludir com a ilusão!

É enfeitar o porão...

Normalmente, o carente vive em função da própria carência,

Como um viciado,

Que se sente preso, encarcerado,

Vítima da suposta fragilidade na consistência.

Então, ele parte para o compensar...

Acreditando que o ato de guardar,

Vai afastar,

Ou aliviar,

O incômodo da solidão.

A qual, ele jura, está minando seu chão.

Assíduo de todas as redes sociais,

Amontoa desconhecidos,

Para provar a si próprio,

Seu particular ópio,

Que é bem popular e conhecido...

Pelo menos nas salas virtuais...

Obviamente, com ninguém tem intimidade,

Até porque, falsifica sua personalidade,

Ou, então, cai no oposto,

Escancarando publicamente o seu desgosto.

O fato

É que o carente não percebe,

Não concebe,

O quanto é chato!

Carência, todos sentimos em algum momento.

Isso não é um constrangimento.

O problema é permanecer nela,

Tendo à sua frente, aberta, a imensa janela,

Que dá para o quintal do autoconhecimento,

Onde é automático o reabastecimento...

É no interior,

Que se sacia a carência gerada no exterior.

Está no conhecimento mais profundo,

A certeza de que nunca estamos sozinhos no mundo.

Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 23/11/2009
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