Cortina Desbotada
A sensação de carência faz a gente acumular...
E se acumula de tudo.
Todo tipo de bobagem que há no mundo.
É como se o próprio fosse acabar.
Ela habita a primeira camada do ser,
A mais exposta, a mais mascarada,
Que, pelo estabelecido, já foi contaminada.
Para dissolvê-la é preciso mergulhar no viver!
Junta-se roupa, objetos, mantimentos,
Embolorados sentimentos,
Nocivos comportamentos,
Neuróticos pensamentos...
Ultrapassados discursos,
Complicados percursos,
Perigosas rotinas,
Desbotadas cortinas...
É um tipo ineficaz de compensação.
É se iludir com a ilusão!
É enfeitar o porão...
Normalmente, o carente vive em função da própria carência,
Como um viciado,
Que se sente preso, encarcerado,
Vítima da suposta fragilidade na consistência.
Então, ele parte para o compensar...
Acreditando que o ato de guardar,
Vai afastar,
Ou aliviar,
O incômodo da solidão.
A qual, ele jura, está minando seu chão.
Assíduo de todas as redes sociais,
Amontoa desconhecidos,
Para provar a si próprio,
Seu particular ópio,
Que é bem popular e conhecido...
Pelo menos nas salas virtuais...
Obviamente, com ninguém tem intimidade,
Até porque, falsifica sua personalidade,
Ou, então, cai no oposto,
Escancarando publicamente o seu desgosto.
O fato
É que o carente não percebe,
Não concebe,
O quanto é chato!
Carência, todos sentimos em algum momento.
Isso não é um constrangimento.
O problema é permanecer nela,
Tendo à sua frente, aberta, a imensa janela,
Que dá para o quintal do autoconhecimento,
Onde é automático o reabastecimento...
É no interior,
Que se sacia a carência gerada no exterior.
Está no conhecimento mais profundo,
A certeza de que nunca estamos sozinhos no mundo.