Um gosto amargo na boca

Sinto mil olhos postos em mim a vasculhar o que penso, em que mundos estranhos vou a procura de abrigo.

Nem eu mesmo atino o porquê do motivo deste continuado resistir aos incessantes ataques do Destino, ao invés dos pontos logo entregar,

Alimentando a fome insaciável dessa engrenagem insuportável com o botim dos meus anseios mais secretos, de minhas convicções abdicar.

Atormenta-me acordar náufrago em meu soturno pensar, acossado pelas tropas da mediocridade, e assustado, corro a cerrar meus postigos.

Como castigo, imponho-me construir estes versos malfeitos, tentando em minha inadequação dar jeito, tateando uma maneira de me acomodar

Como um cego perdido no rush, dispo-me de preconceitos, envergando as vestes do bom sujeito, insto-me a tristeza entender

Faço um acordo pirrônico: prometo ser camaleônico, confundir-me com o faz de conta, os meus temores da vida esconder,

Digerir as impropriedades, curvar-me às incapacidades, fingir que a inveja não vejo, escamotear meus desejos de ar mais puro respirar.

É questão de sobrevivência abrir mão da independência, de ter um diferente pensar; evitar ser atropelado

Enquanto não fortalecido prá peitar o desconhecido, defendendo o justo direito, de se viver com respeito, por si e pelos demais.

Repetir até a exaustão que praticar a compreensão é fundamental para o Amor, que só se reflete no Outro o que em si mesmo já traz.

Fica-me um gosto amargo na boca, de que são meros devaneios, estas minhas idéias loucas de querer um mundo mais lúdico, menos massificado.

Ao nos sentarmos diante de um espelho formado pelas águas de um tranqüilo lago e ver o nosso rosto refletido no mesmo, podemos viajar até o momento em que Narciso viu-se olhando para si mesmo, sem quaisquer disfarces, então percebemos o quão de divino existe em nós; divindade que, a todo momento, o mundo concreto tenta ofuscar.

Vale do Paraíba, tarde do terceiro Domingo de Agosto de 2009

João Bosco (Aprendiz de poeta)