Labirinto sem fim
Oh sensação terrível, esta que nos avassala a alma, jogando-nos indefesos, sentindo-nos a ferros presos, divorciados de nós mesmos - atirados de encontro ao Vazio.
Não há explicação plausível prá este sentir torturante, que nos deixa inermes, travados, incapazes de criar, múltiplas sombras a nublar o semblante.
O mundo em volta é sem brilho, tudo nos parece fora dos trilhos, como se encaixe não houvesse, que alguma alegria nos desse; nada parece importante.
O que fazer nessas horas em que vemos o viço ir embora, deixando-nos a girar em falso, a andar em brasas, descalços; desnorteados, perdidos - à beira do desvario?
Bradar nossas dores ao Vento nos traz pouco ou nenhum alento, não conforta, antes castiga; a angústia nos rouba a calma, tirando o resto de chão.
Só há apoio em nós mesmos, não tem porque reclamar; criamos nossas cadeias difíceis de desatar, é choro amargo guardado, contido: prestes a nos afogar.
Em tal estado de ânimo não enxergamos Luz em redor, a escuridão nos envolve afastando o riso do Sol, enredando-nos em desânimo, tristeza a nos asfixiar.
É um labirinto cruel, em que nos metemos sozinhos, a sorver nossa taça de fel, abdicando do vinho. Palavras ocas, inconsistentes, não escondem nossa inação.
Um querer viver assim tão imberbe, lembra-me o arrastar dos vermes, sem rumo, sem direção: um combatente sem causa, penitente sem salvação,
A mercadejar ilusões, carregando aldravas de medo, entrincheirado em portões, esconde seus muitos segredos em cofres ornados, pejados, de moribundas paixões.
Romper este círculo de giz é tarefa que exige Vontade, encarar com firmeza a Verdade, encontrar rumos perenes, arrostar os nossos fantasmas, por fim as tergiversações,
Cumprir o que prometemos, aportar os nossos navios no porto que escolhemos, vivendo o amor que queremos – juntar retórica e prática em uma exótica equação.
Talvez a pior sensação que um ser humano, em pleno domínio de suas faculdades mentais, venha a sentir, seja o se perceber impotente, incapaz de mudar o ambiente ao seu redor. Esta sensação torna-se ainda mais avassaladora para quem se dá ao luxo de colocar em palavras escritas os seus sentimentos, visto que costuma ver o mundo mais com olhos da alma, eclipsando o que lhe insiste mostrar os olhos da Razão.
Vale do Paraíba, noite da segunda Quinta-Feira, Outubro de 2009
João Bosco (Aprendiz de poeta)