Apenas aparências

Que são essas coisas que se tem

Das quais não se abre mão?

Valores e manias!

Crenças, estéticas, desejos, fantasias...

Que é isso que tanto nos mobiliza

Nos imobiliza, hipnotiza,

Nos vicia, nos escraviza...

Que dependendo delas, as alardeamos

Apresentamos como cartão de visitas

Ou as escondemos

Mantemo-las em banho-maria

Até chegar a hora,

O momento,

O dia...

Que coisas são essas que incorporamos?

Incomodamos...

Oferecemos meio que à revelia...

Que dizemos com atos ou palavras

Que elas são o que somos

De que nos compomos

Numa intangível composição vazia

Por ser descartável por outrem

Questão apenas de se ter simpatia ou, mais raro, empatia

Por que “preferências”

Se nem sempre podemos

Entregues que estamos ao destino que temos?

Com o orgulho esquecido pelas obrigações

Com a auto-estima ferida pelas condições

De que vale ter esse pacote pronto

Se tantas variáveis sempre o modifica

Deixando-nos órfãos de nossas preferências

Gravando na fita de nossa prepotência que não somos isso que apregoamos

Apenas aparências