Um Produto do mundo
De autêntico tenho um pouco,
O que já é o bastante
Para comprovar a angústia de possuir
Liberdade de ser eu mesmo.
O mundo me definiu através de leis
E conceitos abstratos,
Mas posso sair dessa prisão
Negando o meu Eu social.
Até mesmo o Inconsciente é vítima
Da realidade imersa nas convenções
Sancionadas pelos sucessivos
Períodos de organização do povo.
Tudo que tenho em mim
Não veio de mim, talvez se originou de mim.
E mesmo que descubra um teorema
Não será por mérito próprio.
Devo algo a alguém.
É triste, mas sou um resultado
Dos acúmulos lingüísticos, sensoriais, visuais, empíricos...
E a única e original centelha genuína
Que transcende o tempo-espaço em que estamos
Ainda não foi descoberta, acho que nem existe.
Sou uma essência medíocre nessa existência
Dominada pela multiplicidade de possibilidades.
Escolho ser Um e poderia ser Outro.
Mas Um ou Outro são
Meros produtos do mundo.
(02/10/09)