Canteiro

E se não houver amanhã?

O que você fará com sua filosofia vã?

O que será de todo seu preconceito?

De que terá adiantado

Ter hermeticamente trancado

O seu conturbado peito?

Não me leve a mal

Sei que estou sendo radical,

Mas não existem mais certezas.

De que adiantam as novenas,

Se você não desfrutou das tardes serenas...

Se você não aproveitou as noites amenas,

Crivada de estrelas pequenas.

E as manhãs ensolaradas?

Você permitiu que elas o atingissem

E ao seu horizonte tingissem?

As chuvas!

Você deixou que elas o vestissem com suas luvas?

Já se entregou a alguma tempestade?

Já quis iluminar toda a sua cidade?

Se não houver amanhã

Sua vida pagã

Terá mesmo, seriamente

Convincentemente,

Sido bem vivida,

Com aquele gosto de conquista?

Ou será um suplício,

Um amontoado de inúteis sacrifícios?

A vida gosta de termos como: visceral

Plural...,

É ambiciosa,

Não se revela em prosa,

Prefere a magia indiscutível dos versos,

Ainda que incertos.

Não liga para miudezas,

Trava com rudezas.

Assusta-se com a violência,

A essência

Da decadência,

Que atravessa a cadência,

Desafina

E contamina.

A vida o espera em seu canteiro,

Desde que você se entregue por inteiro.

Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 04/09/2009
Código do texto: T1792144