O pensamento

Esse rebelde!

Como domá-lo?

Como podar-lhe os desígnios já traçados por tantos freios inconscientes?

Esse herege!

Como doutriná-lo?

Como dizer-lhe que se prive de onde estive?

De onde não estive, onde estarei ou jamais ousei?

Como parar este inofensivo inconseqüente?

Como demover as oportunidades que ele me dá?

De que modo escrever regras de sinais que ele não consegue decifrar?

Como segurá-lo?

Acelerá-lo, fazê-lo pisar o chão, voar pelo espaço quando necessário...

Se ao mesmo tempo o tolho, recolho, lhe ponho de molho!

...e de vergonha ou outra desculpa que eu escolho...

Sequer lhe olho no olho!

Como impor-lhe regras alienígenas?

Se, por sua natureza, lhe soa indecente o que pra mim são rígidas?

Ou, pelo contrário, ele nem teve tempo e já se viu minado...

...Por minhas imprudências pudicas ofendido, injuriado?

E sem cerimônia ainda o exploro!

Ainda o defloro!

E acho que preciso sempre!

Incansavelmente esgotar-lhe o ventre.

Por onde ele cria, gesta...

E me passa...

Incontinente!