Constatação
Como é difícil tentar se manter equilibrado,
Quando tudo à volta, parece estar errado.
Dá vontade de sair falando,
O verbo rasgando.
Esquecer a polidez
E partir para a aridez.
Tenho ímpetos de desmascarar,
De quebrar,
De rasgar,
De gritar
Até que alguém me escute,
Ou que alguma força estranha me ajude,
A arrumar a casa,
A remendar a asa.
Essas atitudes nada teriam a ver com pirraça.
É que sem me entristecer, não posso mais me sentar à praça,
Como se não percebesse o que acontece ao redor,
Sem esbarrar na certeza de que tudo deveria estar melhor.
Não reclamo apenas pelos meus direitos,
Reivindico por todos os peitos,
Que sofrem calados,
Que se omitem parados,
Que nunca sequer, imaginaram-se alados,
Que rastejam atados.
Foram marginalizados pelo bestial capitalismo,
Fomentador de todo o desprezível egoísmo.
Que nos cega
E nos atropela,
Com sua ânsia galopante
E sua insanidade aterrorizante,
Poluindo a vida em sua essência,
Empurrando o homem à decadência.
É preciso, realmente, ser muito forte,
Ter bem nítido o seu norte,
Respirar profundamente,
Para limpar a mente.
Amparar-se na arte,
Para não perder de vista a suavidade da tarde,
Do aconchego da noite,
Para escapar da fúria do açoite.
Há que se lembrar principalmente,
Indispensavelmente,
Para manter a alma sã,
De se recorrer ao poder intangível,
Imprevisível,
Que vem nos braços de cada manhã