Insandecer
Estou imóvel e olho minhas mãos
Há silêncio a minha volta
Mais que isso, há silêncio em mim.
As palavras me abandonam.
Olho minhas mãos pois tenho medo
Elas trabalham e minha consciência está aparte.
Minha mente é um labirinto
Sigo e desconheço o chão em que piso
A terra de meus próprios pensamentosme me é estranha.
Temo as sombras,
O desconhecido (que é parte de mim)
me assalta na próxima esquina.
E as palavras se esvaem
Me levam a um precipício
Estou insone e me balanço à beira do nada
Tenho medo de me voltar e esquecer quem sou
Tenho medo de seguir e me perder dentro de mim
Sigo a tênue linha
Indecisa, encurralada, insone e insana
Abri mão de minha própria vontade
E permiti que as palavras me guiassem
Meus olhos refletem um céu que eu não vejo
Cada grão de areia dessa praia é parte de mim
Me consome e me rejeita.
Eu neguei quem sou,
Mas não voltarei atrás
Não trilharei ao contrário o caminho que me trouxe até aqui
É preciso estar perdido pra ser encontrado
É preciso estar em perigo pra ser salvo
As palavras estão por toda parte
Dentro de mim, em torno de mim...
Talvez ele chegue e saiba a verdade
Talvez ele me olhe e me enxergue
E me tire desse turbilhão de imobilidade
Então eu finalmente terei colocado tudo a perder
E haverá luz nos meus olhos
E eu finalmente não terei palavras...
Mais do que não saber o que dizer
Eu não precisarei dizer nada
E tudo será claro
Claro, como o céu que meus olhos ainda não podem ver.