PRECISO PARAR POR AQUI
Preciso parar por aqui,
enquanto as pegadas que deixei na vastidão do tempo
coincidem com o rumo dos meus caminhos.
Senão, caminharei por onde não vou
e o meu coração ficará para trás,
inútil até para chorar a minha ausência.
Senão, perderei as minhas escolhas mais sãs,
e depois não encontrarei jamais as palavras
com que digo tudo o que as palavras dizem de mim.
Senão, não saberei mais escolher, entre todos os outros,
aqueles a quem reverencio humildemente
em protestos de carinhos e leal amizade.
Preciso parar por aqui,
antes que no deserto nasçam as flores desconhecidas
que possam desmentir-lhe a lógica, aos silêncios férteis.
Antes que os ventos me roubem, por entre os dedos,
os grãos com que as areias escrevem o esquecimento,
dispersando-se pela paisagem.
Antes que os gestos, livres outrora, persigam formas,
e não se traduzam mais naquelas carícias amorosas das mãos
afagando as linhas que, em letras, vão esculpindo
Ou antes que se viciem os meus braços fortes
num nado travestido, sub-reptício sempre,
que me imita sutilmente, mas sem me ser.
Preciso parar por aqui,
antes que eu seja apenas eu, fazendo alguma coisa,
em vez de mim, não importando o que faça...
JULHO/2009