Onde está o Amor?

Onde está o Amor,

Senão por entre as frestas da janela antiga de madeira corroída, sem qualquer vitral?

A que range quando se faz abrir, para se mirar o botão de rosa abrindo, no quintal

Onde reside o Amor,

Senão através das arestas de um maciço solto num Egito de poeira e pó?

Poliedro morada de insetos, visita do tempo e das intempéries, vivendo só

Onde se encontra o Amor,

Senão nas dobras dos músculos da mão dobrada de um tenso infeliz?

O que torce pelo fim do giro da Terra, que tanto faz ventar em seu rosto cicatriz

Pois sim, meu caro,

Há que garimpar

O Amor não está lá

À tua frente, ao teu olhar

Muita vez raso, sem procurar

Mas sim, sempre a esperar

Que no teu colo, venha a calhar

Pois sim, amigo,

Tens de a terra, fértil, clarificar

Do lugar mais árido ele vem a brotar

Precisa de alimento, o de cultivar,

Que vem do terreno mais duro de arar

Que mais se pisou, uva depois a vinhar

Sem adubo, não se tem lavoura a plantar