Tempos Espaçados
Não posso negar o que sou...
É tão evidente...
Não há como fingir...
Resta-me seguir...
Arrastando-me pela enorme corrente:
Sei bem para onde vou.
Não vou negar o que sou...
Pois é tão claro... Pra que fugir?
A verdade exibe-se escancarada,
Nesta minha face despudorada,
Impedindo-me de mentir...
A Vida, minha pele já tatuou.
Passa a ilusão disfarçada...
Como as águas de meus rios...
Vão fugindo entre meus dedos,
As alegrias e também os medos...
E vou ficando presa em fios,
Desta imensa teia entralaçada...
O Tempo possui tantos espaços...
Mas as horas são retalhos...
Atando-me em atalhos...
Os minutos mordaças...
Que corroem feito traças,
As finas vestes etéreas,
Rasgadas pelo cansaço...
E ouço: - Darás voltas no mundo!
Mas para tantos lugares posso partir,
Sem do lugar sair...
Pois não importa para onde vá,
Algo insiste e me faz voltar,
Então vou e volto num segundo...
Correndo contra o vento...
Contra a areia da ampulheta...
Se a madrugada é fria,
Arde um sol no dia-a-dia...
Tornando a sombra, silhueta,
Do que foi levado pelo Tempo.
São Paulo, 11 de Maio de 2009.