Presidiário do medo de ser feliz
Pobre pássaro desafortunado,
Teve o vôo interrompido de repente,
Num cochilo, um instante distraído,
Detido aos limites duma cela.
E que crime cometeu o passarinho?
Foi cantar destilando sua voz bela,
Despertando a inveja, o caçador,
Que agora do teu corpo se apodera.
Na gaiola um canto sofrido,
Aos que ouvem é linda melodia,
Mas entoando-a, tamanha tristeza,
Sem ter liberdade, vem melancolia.
E quando se solta, podendo fugir,
Perdeu a vontade, quer o cativeiro,
Ser livre denovo, voar e sumir?
Volta a prisão, não tem mais anseios.
Difícil foi se acostumar com a solidão,
Pulava, piava, ninguém atendia,
Tornou-se companheira, ocupa o coração,
Solitário passarinho, triste fim de poesia.
Preso inocentemente,
Alimentado pelos inimigos,
Se via confuso, mas tão bem cuidado,
Tornou-se refém do sequestro passivo.
E como tal passáro todos,
Seguimos reféns de nós mesmos,
Podendo ser livre e voar,
Mas agindo com mais desespero.
Se batendo na grade da falta de amor,
Enquanto está aberta a gaiola do medo,
Está em nossas mãos, é agir com vigor,
Só depende de nós e do nosso desejo.