Vento

Ia criar um poema falando do vento.

Que o vento isso, que o vento aquilo.

Que o vento ajuda a mudar as coisas

A esquecermos de fatos ruins e traumas

Mas achei-me a pessoa mais tola do mundo

Já que o vento é o vento que passa

E nada mais do que isso.

Que besteira achar que o vento seja metáfora de outra coisa

Que pensamento mais infantil.

Pois, como Caeiro, sei que por mais que me esforce

Tudo há de ser mentira em pensar que o vento

É outra coisa que o vento que passa.

Não devemos inventar tanta troça

Para que nos chamem de poetas

E colocar colheradas de nós nas coisas que são elas

Indiferentes de nós e das nossas vidas.

Pois o vento, o rio, o mar

Existem e não nos devem nada

Nós é que somos doentes dos olhos

Poetas lunáticos, loucos idiotas.

Ora, que tem o vento, o rio, e o mar

Com tuas paixões e tuas lembranças?

Que tem as estrelas do céu e os pássaros contigo?

Pois nada. Viva tua vida

Sem precisar dessas metáforas gastas.

Pasquali
Enviado por Pasquali em 02/05/2024
Código do texto: T8054816
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