Vento
Ia criar um poema falando do vento.
Que o vento isso, que o vento aquilo.
Que o vento ajuda a mudar as coisas
A esquecermos de fatos ruins e traumas
Mas achei-me a pessoa mais tola do mundo
Já que o vento é o vento que passa
E nada mais do que isso.
Que besteira achar que o vento seja metáfora de outra coisa
Que pensamento mais infantil.
Pois, como Caeiro, sei que por mais que me esforce
Tudo há de ser mentira em pensar que o vento
É outra coisa que o vento que passa.
Não devemos inventar tanta troça
Para que nos chamem de poetas
E colocar colheradas de nós nas coisas que são elas
Indiferentes de nós e das nossas vidas.
Pois o vento, o rio, o mar
Existem e não nos devem nada
Nós é que somos doentes dos olhos
Poetas lunáticos, loucos idiotas.
Ora, que tem o vento, o rio, e o mar
Com tuas paixões e tuas lembranças?
Que tem as estrelas do céu e os pássaros contigo?
Pois nada. Viva tua vida
Sem precisar dessas metáforas gastas.