QUASE MADRUGADA

(ao som de kipanana no Bié)

O vento e sua dobra de asas

Repousa ao primeiro recanto

Aguardando o fulgor lunar

Por entre a riba do ribeiro

E o rebento das ervas

Até quando lhe tocar a vez –

Mas ao invés de luar aquém

Das ervas e da riba

Surjam vultos à solta

Dispersados às tontas

Quais coelhos sobressaltados

Partindo de salto

Acompanhados por Kisola

Rumo aos barrancos de areia

A sul da margem Kwanza

Desvendando charadas

E fazendo chamadas

Aos morcegos morosos

Que chegam duma vezada

Junto à folhada enfeixada

Em espaço frio e frouxo

Do pirilampo sumido

E estrelas algo embotadas

Coxeando e até rastejando

Às últimas desfiladas

Sob o céu meio dormido

E mal reflectido na neblina

Essa neblina transluzente

Bem estirada sobre searas

Ante os grilos aos gritos

Feitos ritos à beira da serrania

Ao madrugar do dia

O dia ainda por começar

Escrito em Kimbundu (Angola) e traduzido para português por o autor