O VELEIRO

a manhã muito escura

Na suavidade do tempo

Sai do cais mar adentro

Pequena nau, meu veleiro

Vai nas vagas do azul

Singra a barca o imenso

Dança à brisa sem tino

Valsa o vento o destino

Iça a vela vai longe

Leva meu barco ligeiro

Mar calmo e bravio

Arde a pele o sol à pino

Velas da vontade

dão ao vento

levam meu navio destino

Corta a vastidão a quilha

ao largo passa uma ilha

Varre o profundo a rede

O que me há de trazer

O desejo é um leme forte

Deriva a nau nas tormentas

Iras e Fúrias de tempestade

Bruscas nuvens cinzentas

Nau sem rumo e sem norte

Que o caos agita e aderna

Como no estertor da morte

Como se sob pena eterna

Abranda o louco instante

Galeia a nau na calmaria

Abre claro o tempo

Como jamais eu sonharia

Ao longe avisto um porto

Navego ligeiro em sotavento

A vontade lança o lastro

E a vida prossegue

O barco se aporta enfim

E a felicidade se aporta

em mim