O CAMINHO DA PRAIA

Ana caminhava na praia deserta,

sentia a areia quente debaixo dos pés

e vez ou outra a água fria do mar

batia e voltava, como se sentisse pressa em seguir seu percurso.

E ela olhava para os lados

e ao longe via índios

bravos, morenos, belos e serenos.

Pareciam viver tão bem

e não aparentavam vontade de conhecer qualquer civilização.

As ordem eram obedecidas, as crianças educadas,

as mulheres trabalhadeiras e os homens valentes e corajosos.

Caçavam, plantavam, casavam-se entre si e ninguém reclamava de nada.

A praia deserta ficava abandonada e ninguém se preocupava com a história do lugar.

Diziam apenas que era uma praia que ninguém mais se interessava em ir,

era um lugar apenas para descansar ou refletir, mas nunca para diversão.

E Ana caminhava e a floresta de mata virgem e verde que via ao longe

nada mais era do que um caminho alternativo, mas pouco usado, para a praia que estava.

E chegou perto da mata, tocou as folhas de algumas árvores,

admirou flores até então nunca vistas por ela.

Reparou na altura das árvores e no verde casto de matos ainda intocados.

E o verde foi desaparecendo, as árvores foram sumindo, uma a uma sendo derrubadas.

A terra, antes macia e vermelha, ficou seca, áspera e poeirenta.

As flores diferentes haviam sumido e não havia pássaros por ali.

Tudo era apenas uma estrada de terra batida e sem graça como qualquer outra.

Não havia mais índios, só carros que atravessavam a estrada

em velocidade suficiente para que as pessoas não tivessem tempo de pensar

por qual lugar estavam passando!

Ana viu o passado e o presente em alguns minutos

enquanto passeava sem compromisso em uma praia deserta.

Teve consciência do chão que estava pisando

e a vergonha de ser civilizada, invadiu cada partícula do seu ser juvenil.

Ana soube que um dia, assim como aqueles índios, ela também seria passado

e aquele lugar, um dia, estaria pior do que estava agora.

Por um instante, Ana soube de que ela não era o mundo

e que nem o mundo estava nela.

O mundo era apenas o mundo

e o mundo passa,

e o mundo muda!

Miriã Pinheiro
Enviado por Miriã Pinheiro em 25/08/2014
Código do texto: T4936440
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