Protestando
naquela manhã gelada de inverno,
acordei ao som do coral de pássaros,
abro a janela ainda escutando a sua sinfonia
e nos vidros enxergo lacrimosa e vagarosamente
caírem as gotas de orvalho.
Olho para aquela rua discreta e deserta
e só percebo a saudação das folhas de jamelão,
voando ao sabor dos ventos.
Logo depois, sigo em direção a cozinha,
lá sou cumprimentado pela caturrita que grita
o meu nome me dando bom dia,
pela porta percebo minha mãe tomando chimarrão,
se aquecendo sentada ao sol.
Me aproximo, sei que não é meu costume
mas peço um ´´amargo´´, me rendo
a essa maneira de se aquecer e proteger do frio,
ainda que bem agasalhado,
na rua estou bem mais a vontade.
Olho para o lado e na ocasião vejo
o quero-quero de estimação encarangado,
pedindo um conforto. de repente
parado na frente do portão,
reconheço o mesmo coral de pássaros,
cantando em outra sintonia,
sem ter aquela mesma alegria
que tinha naquela manhã.
Então, logo deduzi que não estavam cantando
e sim protestando contra essa estação
que continua horrível.
Sei que a chegada da primavera
ainda vai demorar, enquanto isso
continuarei à tomar o meu chimarrão
sentado ao sol, encolhido como um caracol
e como diria a minha mãe, ´´não se esqueça
um bom chimarrão tem que ser
com a erva chaleira preta.